domingo, 17 de novembro de 2013

O Coração

O coração é um quarto que poucos tem a chave. É mobiliado com emoções de vidro em prateleiras de cristal, por paredes pintadas de afeto, por lembranças de ferro-fantasma presas ao chão e grandiosos baús que só guardam segredos. Tem o tamanho e o formato que o dono permitir. Aproximações e merecimentos depois, uma cópia da chave é cedida gratuitamente. O uso dela é incerto. Muitas, nada fazem. Entram e não mexem em nada. Outras turisteiam as terras desconhecidas mas logo voltam pra onde pertencem, deixando e levando saudade. As melhores são as que entram, colorem as paredes de amor e impreguinam um doce aroma de felicidade. Ficam lá e nunca mais vão embora. Você foi diferente. Fez sala mas partiu. Partiu feito um raio. Partiu feito tempestade. Partiu feito touro em loja de porcelana. Sem gentileza, manchou as paredes de cinza. Deixou toneladas de memórias doces e amargas. Algumas tornaram-se riso, mas hoje eu pago com juros as que viraram silêncio. Refém da faxina, reergo esse quarto com o sacrifício do tempo. Rezando para que cada tic-tac seja o último do penar. Reergo porém, quase de ferro, imperial. Muito mais forte que antes. Sempre esperando ouvir o ranger da porta abrindo novamente. Mesmo sabendo que você ainda tem a chave e que nunca troquei a fechadura.

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